domingo, 14 de abril de 2013

"Ponto de vista" semanal de Luís Costa Correia


     Encontro Internacional sobre o espírito europeu.

Ao ligar o televisor, há dois ou três dias, deparou-se-me um jornalista que anunciava uma importante comunicação de Herman Van Rompuy, Presidente da União Europeia.

Tratava-se de uma decisão daquele alto Representante informando que decidira colocar na  agenda da próxima reunião, em 22 de Maio, do Conselho Europeu a que preside, a questão da luta contra os "paraísos fiscais".

Sem tirar o mérito relativamente à importância e oportunidade de tal assunto, confesso que esperaria ouvir o anúncio de uma importante comunicação sobre um debate a propósito do futuro da União Europeia e da Europa na qual se insere, dado o momento de desorientação global que os europeus sentem quanto ao seu porvir.

Não foi por acaso que os primeiros Encontros Internacionais de Genebra, realizados em 1946 quando ainda estavam quentes as cinzas do terrível conflito que marcou o início de uma nova era no Mundo, foi precisamente dedicado ao "Espírito Europeu", e que tanto viriam a influenciar os passos que pouco depois se deram e estiveram na origem de instituições europeias que procuravam assumir um papel que corrigindo as perspectivas colonizadoras que tinham caracterizado até então a intervenção de diversas nações europeias procurasse ao mesmo tempo demonstrar a nobreza de um pensamento que afirmasse os princípios da democracia e da igualdade.

Pessoas como Aron, Jaspers, Merleau-Ponty, Rougemont, Luckács, Benda e outros reflectiram então sobre as razões que teriam levado tantos intelectuais e pensadores a demitirem-se do seu papel de reflexão sobre as atitudes de políticos que tinham colocado a guerra, as guerras, como solução para os problemas dos povos.

E os que de certo modo terão chegado à conclusão de que não se pode afirmar que existe um "espírito europeu", tantas diferentes culturas o demonstrando, nem por isso terão deixado de sair daquele Encontro pensando que estavam paradoxalmente a procurar descobrir a existência de tal espírito.

O momento por que passa a União Europeia é inegavelmente de profunda desorientação. A ausência de um pensamento político-ideológico que tem caracterizado as reuniões do Conselho Europeu, demonstrando que a condução política não tem prevalecido sobre o pensamento económico-financeiro, em nada contribui para atenuar a perplexidade dos cidadãos face ao que sentem como um "vazio europeu".

Para tal tem em muito contribuído a pobreza intelectual de muitos dirigentes europeus, quer em funções nas instituições da  União Europeia, quer a nível nacional tanto dentro da União como fora dela.

Está assim na hora de os pensadores e intelectuais europeus voltarem a reflectir sobre o "espírito europeu", procurando caminhos que sirvam para que os cidadãos e os representantes que escolhem possam contribuir para que a extraordinária diversidade e riqueza de ideias que têm caracterizado a formação da Europa possa constituir um exemplo para o mundo em termos de paz, tolerância, desenvolvimento, e democracia.

Portugal, de certo modo o primeiro país a iniciar o período de colonização europeia, e um dos últimos a cessá-lo, pode lançar a ideia de um Encontro Internacional sobre "O espírito europeu", privilegiando a participação de pensadores e intelectuais, e que ajude a Europa e a União Europeia a procurarem os melhores caminhos a trilhar no seu futuro no Mundo.

Onde, tal Encontro?

Obviamente, em Sagres.

14.Abril.2013.